devo-te dois louvores: o de voltar a sorrir sinceramente e o de me reencontrar.
gratia
mas voltei a perder-me
reacendendeu-se um vulcão entretanto quase petrificado na sua impenetrabilidade.
vai percorrendo a lava todos os caminhos entreabertos sem encontrar a verdadeira saída.
produz energia e calor inconsumidos mas combustíveis.
vai sumindo a vida à sua passagem sem destino certo. procura um destino mas percorre caminho cego na escuridão das cavidades em que se alberga.silenciosamente escorrega a lava abrasiva e pretensamente húmida as paredes quase mortas de vida.
arde. apenas arde. e queima.
no fundo do azul dos teus olhos plantarei a justiça - ainda que não vingue -,
nas tuas mãos a delicadeza do gesto e na tua alma a nobreza de carácter e o orgulho de existires.
o teu pensamento será dourado e esperançado, mas justo.
o alvor da tua pele será o receptáculo dos cromatismos da vida.
as flores que te dou podem murchar com as adversidades. não é possível impedi-lo.
lançadas à terra as sementes podem não germinar ou singrar raquíticas ou robustas.
a humanidade semeia. semeio-te de humanidade.
a vida semeia-se com sangue.
o confronto de forças urge.
devem os titãs degladiar-se nas forças que os dominam e os definem.
a derrota deverá emergir.
"mas eu não sou um monstro" - "então que és tu?"
só na arena, de um silêncio face a uma impotência de resposta, se poderá reclamar a derrota da monstruosidade.
a hora aproxima-se na sua necessidade: como responder a um mutismo?
recuso o frenesim esquizofrénico da ostentação de vontades que não se têm.
em nome da mãe requer-se felicidade invendável. a sua presença eterna impossível. o sorriso e o cuidado das que o são.
em nome da mãe quer-se paz.
mãe.
mater.
matriz.
matrix.
o eco das sés evoca o retorno a uma vida sacra.
entoam-se cânticos quase silenciosos unissonantes pretendendo-se atingir os confins do espaço etéreo onde se situa o pater.
canta-se a masculinidade fecundante da natura.
onde se confunde o sentido da maternidade com o da paternidade.
apela-se ao pai a protecção maternal. pede-se à semente que interceda junto do útero, em sentido de misericórdia.
matrix: donde parte a vida nidificada. a feminilidade que acolhe as sementes e as faz germinar.
concentro-me na criação. a beleza da criatura que parte de uma natureza anónima, amorfa e cega torna-se beleza aos olhos dos afectos.
criar. engendrar. germinar.
não tem que fazer sentido.